Caricatura do cartunista Edra,
de autoria de Brito - Angicos (RN)
Nascido Élcio Danilo Russo Amorim na bela cidade mineira de Caratinga, aos 21 dias de janeiro de 1960, renascido, conhecido e reconhecido como Edra para o cartum brasileiro. Nos anos 80 iniciou sua bem-sucedida carreira no Correio Braziliense em 1980, trabalhando também no Jornal de Brasília e Correio do Brasil, no qual foi o responsável pelo Suplemento Infantil Clubinho.
Edra coleciona vitórias em diversos salões de humor, dentre eles o Salão Internacional de Humor do Piauí e o Concurso Por Su Salud, No Fume!, de Buenos Aires.
Além do Diário de Caratinga no qual veiculou suas charges por 13 anos, também publicou 27 livros: Chulé (1993, com tirinhas), Bagunçaram o meu coreto (1997, de charges), Se rir eu choro… (1998, cartuns), O que vier eu traço (2003, cartuns, charges e caricatura), E foi assim… (2005, sobre a história do Carnaval caratinguense), entre outros. É também idealizador e realizador do Salão Internacional de Humor de Caratinga, desde 1998, e idealizador da Casa Ziraldo de Cultura, fundador da Gibiteca Turma do Pererê, presidente da Associação Estação Cultural de Caratinga e parte do Conselho Diretor do Movimento Amigos de Caratinga.
Sabemos que é na infância onde tomamos os primeiros contatos com pincéis, tintas, lápis e papel, com você assim?
- Sim. Meu pai tinha um restaurante e eu ficava pegando naquelas antigas bobinas de papel para embrulhar pão, pedaços e mais pedaços para fazer os meus primeiros rabiscos, que no passar do tempo foram tomando formas. Primeiro foram cenas de faroeste com direito a muitos cavalos, cowboys e índios. Depois paisagens, animais e pessoas. Tive uma boa fase desenhando cenas de futebol, criava histórias com jogos e quando nosso time da rua disputava uma pelada com o time da outra rua, ao voltar pra casa eu desenhava os gols do nosso time e fazia tipo um jornalzinho, com manchetes, entrevistas e tudo mais… kkkk.
Desenhar teve alguma influência ou você é a “ovelha negra” da família?
- De uma certa forma tive influência da minha mãe, embora ela nunca tenha sido uma artista, na essência da palavra. Ela era Professora do primário e eu ficava encantado com os desenhos que ela fazia em folhas grandes de cartolina no seu preparo de plano de aulas, o que me despertou a começar a fazer os meus. Para aproveitar o gancho da pergunta vou complementar minha resposta com uma revelação que pode surpreender a muitos. Pode parecer estranho, mas a atividade que menos exerci ao longo desta minha trajetória foi a de desenhar. Deus me deu o dom, tenho a mão boa, mas acho que poderia desenvolver mais o talento e obter mais sucesso como cartunista se dedicasse mais a arte de desenhar. Ao contrário dos artistas que vivem exclusivamente de seus traços e que entram numa redação, agência ou em seu próprio estúdio e passam ali oito horas ou mais horas diárias criando, desenhando e pintando, eu segmentei minha profissão diagramando, editando, criando logomarcas, sendo dono de loja de roupas infantil, de gráfica, produzindo catálogo telefônico, vendendo brindes, fazendo propaganda e, na minha agitação cultural, fundei blocos de carnaval, clube de carros antigos, promovi mais uma tanto de eventos, e foram muitos anos de luta e horas de sono perdidos para realizar, até aqui, dezessete salões de humor e criar a Casa Ziraldo de Cultura. E nesta correria, para poder conjuminar uma atividade às outras, não me sobrava muito tempo para me dedicar à prancheta e sempre fiz as charges a toque de caixa, sem muitas elucubrações, com desenhos toscos e sem burilar as ideias.
Quando tomou consciência que o desenho, mas especificamente, o cartum seria sua profissão?
-Desde criança eu gostava muito de ler. Adorava a Revista Recreio que trazia atividades que aguçavam a minha imaginação e me colocou diante de textos de grandes escritores. Ainda muito garoto, criei o hábito ler muito jornais e revistas. Quando eu deparei com as charges e ilustrações – para quem já tinha um dom do desenho – naturalmente despertaram em mim uma atração especial e comecei a fazer os meus quadrinhos e cartuns. Não demorou muito para que eu alimentasse o sonho em me tornar um cartunista.
A família apoiou?
Meus pais sabiam que eu gostava de desenhar. Por ser muito tímido a minha mãe conseguiu para mim o meu primeiro emprego como desenhista arquitetônico, aos 15 anos. Uma profissão de acordo com as minhas habilidades manuais e uma atividade sem maiores contatos com outras pessoas. Mais quando eu disse que queria sair de Caratinga para tentar ser cartunista eles não tinham a menor ideia do que se tratava, mas sempre me deram apoio e buscavam até entender um pouco do que eu fazia. Atualmente a minha mãe, 93, costuma dar os seus pitacos no meu trabalho e eu geralmente troco opiniões com ela e acabo acatando algumas… rssss.
Quantos anos de estrada, amassando e rabiscando papeis em busca suplantar o desafio do papel em branco?
- Comecei a minha profissão de cartunista em Brasília fazendo charges, caricaturas e ilustrações para o caderno de Esportes no Correio Brazilense (1980). Minha estreia de charge editorial foi no ano seguinte na Folha de Brasília. Durante cinco anos fui Diretor de Arte e Programador Visual de uma revista esportiva, publiquei tirinhas no Jornal de Brasília, ilustrador do Caderno de Cultura do Correio do Brasil, onde eu também editei por oito anos um suplemento infantil e, alternadamente, muito trabalhos de desenhos e diagramação como freelance na imprensa alternativa.
Como avalia a qualidade do cartum brasileiro?
- Fabulosa!
Você acredita que o cartunista brasileiro é bem remunerado?
- Pouquíssimos conseguiram.
No mundo dos traços quais foram suas influências e seu ídolo? – sem é que tem um.
- No início eu queria criar personagens e fazer quadrinhos bem no estilo do Maurício de Souza até enveredar nas charges e cartuns quando passei a conhecer e curtir muito os trabalhos do Quino, Laerte e Ziraldo.
Como é realizar um salão de Humor?
- Cara, eu fico embasbacado quando visito outros salões e me deparo com o trabalho de produção executados por equipes segmentadas, totalizando um grupo bom de pessoas. Estrutura de todas as ordens, envolvimento de entidades no processo geral e daí eu analiso como eu consigo fazer um salão sem a mínima comparação da mesma ordem, e ainda por cima numa cidade do interior. Aqui eu assobio e chupo cana. Do parafuso de uma tenda a passagens de avião que vai trazer os artistas convidados, tudo passa por mim, algumas vezes apoiado por um ou dois abnegados amigos, voluntariamente. Mas nada interfere no resultado final da formatação do salão, na qualidade e proposta do mesmo. Não fica devendo em nada, neste ponto de vista, aos grandes salões do nosso país, e te digo mais, até as falhas são similares (risos).
Apesar das grandes dificuldades enfrentadas ao longo destes anos, o nosso salão entra para sua décima oitava edição neste ano, desfrutando de grande prestígio no país e no exterior; de credibilidade entre os artistas pela sua organização. Estamos entre os quatro melhores salões do Brasil e também entre os de maior longevidade. Isto não é pouca coisa! E para chegar até aqui enfrentei problemas de todas as ordens. Foi preciso eu ser muito abnegado, de manter firme o foco e a determinação. Para manter a viva proposta do projeto, venho realizando as últimas edições sem nenhum suporte financeiro, procurando com isso usar o recurso da originalidade e inovações para mantê-lo atrativo. Em 2021 criei o Festival Jal&Gual numa iniciativa sem precedentes no cenário mundial onde os cartunistas são homenageados por cartunistas. Para este ano quero lançar o 1º Salão Mirim de Humor de Caratinga pois considero esta seção que existem em alguns outros salões, de muita importância.
Então para finalmente responder a sua pergunta: SIM. É muito difícil e realmente dá muito trabalho e, mesmo sem nenhum retorno, você tem que abdicar de alguns compromissos profissionais e isso se torna a situação ainda mais delicada, mas venho buscando forças para manter o ideal. E para confirmar o que eu digo confira um trecho do depoimento do Zélio (considerado o papa dos salões de humor do Brasil) que ele prestou quando na inauguração da Casa Ziraldo de Cultura em 2009:
“Não é fácil fazer um salão de humor. Isto é seríssimo! E repetir por dez anos é de um heroísmo que poucos no Brasil conseguiram. Aliás poucos no mundo. Poucos são os salões que conseguem sobreviver por tanto tempo. Aqui no Brasil tem uns quatro ou cinco, no máximo. Daqui a pouco o de Caratinga vai entrar no hall daqueles miraculosos que vier depois de que tentar fazer melhor do que o Edra, vai ser difícil fazer, mas tenta!”
Fonte: http://casaziraldodecultura.blogspot.com/2011/08/zelio-10-salao-de-humor.html
E para ampliar as informações acerca deste gênero de atividade, o Salão de Humor, ao expor os trabalhos originais destes artistas, além de aproximar vários de seus autores entre si e ao grande público, abre um importante canal de informação especialmente aos que não tem acesso aos grandes jornais, revistas e livros ou até mesmo aos que não tem o hábito da leitura e proporciona aos visitantes ligados a arte o contato com as mais variadas técnicas e estilos. Com os espaços na mídia reduzidos, cada vez mais e de forma acentuada, as promoções de salões de humor mantém um significativo suporte para servir de estímulo, vitrine, e envolvimento da classe em torno da paixão que os unem e ou para que continue sendo um canal importante de expressão e manifestações política e social.
A resposta do público é enorme, pelo fato do humor ter uma linguagem universal e pelo grande fascínio que a beleza plástica do desenho exerce nas pessoas, criando um apelo a mensagem que cada artista procura passar.
Durante a realização do evento, a cidade e região se mobilizam para visitar, discutir e refletir sobre os mais variados temas apresentados nos trabalhos expostos como o meio ambiente, a fome, a desigualdade social, violência, política, guerra, racismo, o menor abandonado entre outros, na visão de artistas de várias partes do mundo. Todas as pessoas que visitam o salão saem de lá tocadas, não ficando ninguém indiferente, o que torna ainda mais gratificante a realização de um evento desta natureza.
Uma forma de fomentar a cultura, levando às pessoas informação, conscientização e divertimento através do entretenimento, estimulando também o contato entre autores, público e afins.
Qual a charge, cartum ou caricatura que gostaria de ter desenhando?
- Todas as charges do Angeli, todos os cartuns do Quino, todas as tirinhas da Laerte, todas as caricaturas do Ulisses e todos os desenhos do Ziraldo.
A internet restringiu muito, quer dizer, praticamente acabou com os jornais e revistas impressos e consequentemente com os espaços para os profissionais do cartum, você acredita que também abriu outras oportunidades e novos mercados?
- A internet revolucionou toda a mídia, cada profissão foi condicionada a tomar novos rumos e para a maioria foi totalmente favorável. No nosso caso, se por um lado deu maior visibilidade, por outro tirou todo o nosso controle de uso da imagem e consequentemente a sua renumeração.
O que é ser um cartunista?
- É padecer no jornalismo
Quem é Edra?
- Elcio Danilo Russo Amorim kkkkkkk. Mas para me traduzir, o que eu sou mesmo é um batalhador.
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