O cartunista Edra, iniciou no universo das charges em Brasília em 1980. Aqui no Diário de Caratinga ele completa em 2012, 10 anos de publicação de seu trabalho artístico, retratando o cotidiano, de acordo com a própria cobertura dos fatos que o jornal faz diariamente. Para comemorar este marco, Edra planeja lançar cinco livros, além de uma exposição e um encarte especial no “DIÁRIO”, com o melhor de seu humor gráfico neste período. Hoje, quando o Diário completa 17 anos, o artista caratinguense fala com exclusividade sobre sua história com as charges e com o jornal.
1 - Você está completando 10 anos de parceria com o Diário de Caratinga. Como começou este seu trabalho aqui no jornal?
R - Quando Caratinga foi devastada pela enchente em 2003, deixando lastros de sofrimento, desespero e dor em nossa população, senti a necessidade de expressar este sentimento coletivo e peguei o meu material de desenho e comecei a riscar freneticamente, colocando no papel todas aquelas impressões que passavam na minha cabeça. Com menos de uma hora fiz 18 charges retratando com humor aquela tragédia que se acometeu sobre a maioria de todos nós. Eu, particularmente, perdi a minha gráfica.
Uma onda de tristeza se abateu nos caratinguenses. Quis externar o meu desagravo e ofereci os meus desenhos ao Diário de Caratinga, que aceitou e publicou uma página (23/janeiro/2003 – edição 2.298) com o título: EDRAMÁTICO (fazendo alusão ao meu nome e a situação que vivíamos) seguido com um sub título: “Mas não podemos perder a Fé, Esperança, Força, Determinação e o ...HUMOR”. E abaixo uma tarja preta com o dizeres em letras garrafais e vazadas “VAMOS RECONSTRUIR CARATINGA!”
Mediante a repercussão e o sucesso alcançado, o William Ribeiro que era o editor na época, me convidou a retornar a redação e dar continuidade e desde então venho sistematicamente publicando minhas charges na capa do Diário de Caratinga.
2 - Mas, antes disso, você já havia feito parte da equipe do Diário de Caratinga?
R – Sim, no início de 1996, ainda quando era Diário do Aço / Caratinga, assumi as charges do jornal a convite do então sócio proprietário da empresa, Glauco Grossi Assis. Foi exatamente no período do final da administração do Prefeito Dário Grossi, a eleição e início do mandato do José de Assis.
Na dificuldade de conciliar a administração da minha gráfica entre outros projetos, parei de produzi-las após um ano resultando no lançamento do livro “Bagunçaram o Meu Coreto” em 1997, com a coletânea das principais charges.
3- E como você começou a fazer charges?
R- Comecei fazendo charges profissionalmente em 1980 num dos maiores jornais do país, o Correio Braziliense, em Brasília, nos cadernos de Esporte e de Cultura.
Daí, fui convidado a fazer a charge editorial na Folha de Brasília que acabara de ser lançada. Peguei o ranço da ditadura com Geisel, Figueiredo, colégio eleitoral e a super inflação com Delfim Neto. Ainda na capital federal, fiz charges, quadrinhos e ilustrações para o Jornal de Brasília e Correio do Brasil.
Mais tarde, quando voltei para Caratinga, fiz charges para o jornal A Semana durante dois períodos distintos (1984/87 e 1994/98). E para registro, vale ressaltar que a minha primeira charge publicada no “Flagrante”, extinto jornal caratinguense, no dia 25 de agosto de 1983.
4 - Na sua opinião, qual é o papel da charge?
R – Uma boa charge equivale a um belo texto analítico e crítico que contribui para a avaliação e o correto dimensionamento social e político do fato, do feito ou dos envolvidos.
Seu apelo visual exerce uma atração de comunicação muito forte sobre o leitor. Sua leitura é de fácil interpretação e a mensagem é de rápido entendimento, mesmo pelas pessoas de menor grau de instrução.
O humor é a nossa arma para desmitificar a hipocrisia. A charge por sua vez, é imparcial e se baseia em fatos. Ela pode servir de aliada contra a alienação, o despertar da cidadania e identificação de nossos anseios. Se a charge, com o passar dos anos, perde um pouco na sua interpretação por ter uma abordagem circunstancial, ela ganha, numa dimensão imensurável, como registro histórico
5 - E qual é a temática central das charges que você publica no Diário?
R – O tema é Caratinga, a nossa realidade. Exatamente o que me move é o desafio de fazer charges em cima de acontecimentos ocorridos em nossa comunidade e região. E isto é um diferencial pra mim, para os leitores do jornal e da nossa gente, na medida em que se põe o dedo na ferida exposta de nossa cidade e suas mazelas, por algumas das quais todos somos responsáveis.
Se fosse pra fazer charge abordando os mesmos assuntos que os jornais dos grandes centros, não teria sentido algum pra mim, embora, às vezes, tenha que tirar leite em pedra por absoluta falta de assunto que possa servir como tema. (Risos)
6 - E as causas sociais, também são uma preocupação sua?
R – Certamente. Minhas charges não estão atreladas somente aos fatos políticos, mas também aos nossos costumes, esportes, cultura, saúde, lazer, meio ambiente, entre tantos outros assuntos pertinentes.
7 - E como você se pauta? Atende pedidos, ouve os comentários nas ruas...
R – Em cada charge abordo a notícia mais importante do momento ou de fatos que eu mesmo percebo no dia a dia. Ando sempre antenado. (Risos)
Geralmente sou abordado por muito leitores nas ruas de Caratinga que tecem comentários e críticas. Na maioria absoluta das vezes são muito gentis e não me poupam elogios, muitos comentam que as charges são a primeira coisa que conferem na capa do jornal, alguns me mostram charges antigas guardadas na carteira, outros me revelam que colecionam recortes, isto me estimula muito a procurar fazer o melhor e de forma mais criteriosa, sempre.
Muito raro alguém arrisca um palpite, pois na verdade sinto que existe uma simbiose muito acentuada entre minhas charges com a opinião dos leitores do Diário de Caratinga. Com exceção dos atleticanos, é claro... (Risada)
8 - Agora vem a eleição. Falando em política... Caratinga está vivendo um período político conturbado. O que você acha disso?
R- Eu, chargista, não tenho que achar nada. (Risos). O que posso te dizer que no período de eleição é farta a matéria prima que os candidatos nos oferecem de bandeja (geralmente abarrotadas de pizzas) e no cenário político que estamos vivendo te garanto que dá pra fazer uma meia dúzia de charges por dia! (Risada)
9 - Você também trabalha com caricaturas... fale sobre elas.
R –. Graças a Deus, além das charges e cartuns, tenho o dom também de fazer quadrinhos, ilustrações e caricaturas. Adoro fazer caricaturas e as pessoas também curtem muito, porém não faço com freqüência e a prática é que nos faz evoluir. Tenho feito algumas de forma muito espaçadas com o desejo de me dedicar mais
10 - O que você está preparando para a comemoração destes 10 anos de charges no Diário de Caratinga?
R- Com o apoio da direção do Diário de Caratinga, será publicado um encarte especial de 8 páginas fazendo uma pequena retrospectiva destes dez anos de minha atuação. Acontecerá também uma exposição na Casa Ziraldo de Cultura das charges mais marcantes destes períodos e finalmente o lançamento de um kit de 5 livros que trarão coletâneas das melhores charges de cada dois anos, apresentando aproximadamente cerca de 1400 charges.
Estou muito motivado na expectativa da boa aceitação de público e consciente da importância histórica deste empreendimento editorial na imprensa do nosso município.
Para isto, estou há três meses pesquisando todo meu acervo, catalogando estes desenhos. Um trabalho bastante minucioso e desgastante varando madrugadas a dentro, pois não se trata de uma compilação pura e simples, haja vista que tive que pesquisar arquivos no meu computador e em centenas de cd’s, rever todos os meus originais, escanear dezenas deles que não estavam arquivados. E para esta seleção, fiz um paralelo com as páginas encadernadas de modo não deixar de avaliar nenhuma charge sequer e principalmente editá-las em ordem cronológicas para um acompanhamento preciso dos acontecimentos em Caratinga nestes últimos dez anos em forma de traços e muito humor.
Enchente de 2003 marcou a volta do artista ao Diário de Caratinga |
Precariedade do sistema carcerário foi abordagem constante nos anos de 2006 a 2008. |
Política local é tema central |
As questões sociais sempre estão em pauta |
A rivalidade entre atleticanos e cruzeirense é uma atração à parte entre os torcedores |
Fonte: Diário de Caratinga
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